Desde há muito tempo que os serviços de saúde têm dedicado uma atenção especial à qualidade das águas destinadas ao consumo humano, tendo desenvolvido e aplicado o conceito de vigilância sanitária.
Segundo o Decreto-lei n.º 306/2007 de 27 de Agosto, que estabelece o regime da qualidade da água destinada ao consumo humano, é da responsabilidade da autoridade de saúde assegurar a vigilância sanitária da qualidade da água para consumo humano (ACH), fornecida pelas entidades gestoras, devendo simultaneamente avaliar o risco para a saúde humana da qualidade da água destinada ao consumo humano. O grande objetivo deste diploma consiste na proteção da saúde humana e dos efeitos nocivos resultantes da eventual contaminação da água, pretendendo assim, assegurar o seu fornecimento de uma forma salubre, limpa e desejavelmente equilibrada na sua composição.
Com a publicação do Decreto-Lei nº243/01, de 5 de Setembro, foi necessário sistematizar as atividades decorrentes da vigilância sanitária da água destinada ao consumo humano, sendo desenvolvido o respetivo programa de atividades, cujos objectivos e prioridades são:
a. Proteção da saúde das populações;
b. Identificação dos factores de risco existentes ou potenciais;
c. Fornecimento de informação ao público utilizador e entidades competentes;
d. Manutenção permanente de uma base de dados atualizada.
A vigilância sanitária abrange os seguintes tipos de água destinada ao consumo humano:
a. Água distribuída por sistemas de abastecimento público ou privado que sirvam uma população igual ou superior a 50 hab. e/ou abasteçam caudais iguais ou superiores a 10 m3/dia;
b. Água distribuída por sistemas de abastecimento público ou privado que sirvam menos de 50 hab. e/ou abasteçam menos de 10 m3/dia (fontes individuais, DL 243/2001);
c. Água utilizada na indústria alimentar ou em estabelecimentos que manuseiam géneros alimentícios e que não estão ligados às redes públicas de abastecimento;
d. Água colocada à venda em garrafas ou outros recipientes (água acondicionada);
e. Água distribuída por camiões ou navios cisterna;
f. Água distribuída por sistemas de abastecimento particulares de entidades públicas ou privadas que exerçam atividades comerciais, industriais ou de serviços.
O Programa de Vigilância Sanitária de Água para Consumo Humano está fundamentado nas seguintes vertentes:
· Higio-sanitária e Tecnológica – Ações de avaliação das condições de higiene e segurança a nível das instalações e do funcionamento e a análise das medidas de gestão e manutenção da qualidade da água e dos equipamentos. Com este conjunto de ações pretende-se ter conhecimento do sistema de água e do seu funcionamento e as características da água e das zonas de abastecimento consideradas mais problemáticas.
· Analítica – Realização de análises complementares ao Programa de Controlo da Qualidade da Água (PCQA) e de outras ações necessárias para a avaliação da qualidade da água para consumo humano. Envolve:
- a colheita de amostras para analise (microbiológica, físico-química ou outras);
- a verificação do cumprimento do programa de controlo da qualidade da água distribuída.
· Epidemiológica – Permite a comparação e interpretação da informação obtida através dos programas, com recurso a dados de caracterização do estado de saúde dos consumidores (obtidos, nomeadamente, a partir de bases de dados de morbilidade ou de inquéritos epidemiológicos). A necessidade e a definição destes estudos são da competência das Autoridades de Saúde, tendo em conta o conhecimento das realidades locais.
No decorrer da primeira semana efetuámos recolha de águas de consumo humano da rede de abastecimento público e fizemo-lo em seis torneiras de seis freguesias. Na Unidade de saúde pública preparámos os frascos para a recolha das amostras e preenchemos, todos os espaços que são da nossa competência, na ficha de identificação que segue posteriormente para o laboratório, tais como:
· Requisitante (corresponde ao Centro de Saúde do Concelho onde foi efectuada a colheita);
· Tipo de análise (indicação da água que se trata, ACH/Piscina/Piscina terapêutica/parque aquático ou empreendimento turístico/mineral ou nascente/hemodiálise e dos parâmetros ou grupo de parâmetros a analisar na amostra);
· Identificação (descrição do ponto de amostragem);
· Localidade;
· Ponto de colheita;
· Abastecimento (público / particular);
· Desinfecção (Sim/Não);
· Tipo de tratamento;
· Data e hora da colheita;
· Medições no local (registo dos resultados dos parâmetros analisados no local, neste caso, uma vez que se trataram de ACH, do teor de desinfetante (cloro) residual disponível e de pH, que deve ser efectuado no momento da colheita da amostra;
· Identificação do técnico responsável pela colheita da amostra.
De seguida pode ver-se a ficha que utilizamos como instrumento de recolha.
No local da recolha desinfectámos a torneira, por flamejamento com algodão e álcool, posteriormente, dependendo do tipo de amostra e do facto de se tratar de um local com utilização ou não da torneira (nos momentos precedentes à colheita) assim deixámos ou não correr água. Quando pretendemos proceder à análise de metais, retirámos a primeira água (sem deixar correr). Nas restantes situações dependeu do local, mas oscilou entre os 5 e os 20 segundos. De seguida recolhemos as amostras nos devidos frascos. Cada ponto de colheita tem as suas próprias características, pelo que as amostras recolhidas destinam-se a analisar diferentes parâmetros nomeadamente:
· Análise Microbiológica que inclui bactérias coliformes, Escherichia coli e Enterococos intestinais, sendo utilizado para recolha um frasco esterilizado de 500ml com Tiossulfato de sódio a 1,8%.
· Análise P3, inclui os parâmetros P1 (Bactérias coliformes, Escherichia coli, Enterococos intestinais, pH e condutividade) mais P2 (número de colónias a 22ºC e a 37ºC, Clostridium perfringes, turvação, Amónio, Nitrato, Nitrito, Oxidabilidade, Ferro e Manganês) e ainda o Cádmio, Crómio, Cobre, Chumbo, Níquel, Sódio e Potássio. Para efetuar esta recolha utiliza-se um frasco esterilizado de 500ml com Tiossulfato de sódio a 1,8%, uma garrafa de 1,5L ou um frasco de 1L de polietileno, um frasco de vidro de 250ml tratado com mistura de ácido clorídrico a 25% e um frasco próprio para Trihalometanos.
Após a recolha das amostras fez-se, no local, a determinação do cloro residual livre e do pH através de um comparador de cores. Para o efeito são colocados 10ml de água em duas cuvetes distintas às quais são adicionados reagentes, em comprimido, que darão cor à água consoante os valores destes parâmetros. Na cuvete que se destina à determinação do pH, utiliza-se o reagente “Phenol Red”, na que se destina ao cloro utiliza-se o “DPD n.º 1”. Depois existem discos específicos de cores, com uma escala de valores associada, para o cloro e para o pH que são introduzidos no comparador conjuntamente com a cuvete do parâmetro correspondente. Faz-se a rotação do disco e quando as cores da cuvete e do disco coincidem, obtém-se o respetivo valor.
Posteriormente à realização de todo este procedimento, as amostras seguem em ambiente refrigerado para o laboratório de Évora onde serão analisados e verificados os valores.
Imagem 1 - Aparelho de medição de Cloro Residual livre e pH |
Imagem 2 - Flamejamento da torneira |
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