Numa anterior publicação já falei do programa revive, apenas faltou falar dos ixodídeos, mais conhecidos por carraças.
Os ixodídeos existem em quase todas as regiões zoogeográficas, parasitando uma ampla variedade de hospedeiros como mamíferos, aves, répteis e anfíbios. As carraças alimentam-se do sangue do hospedeiro, geralmente de animais domésticos, silvestres e ocasionalmente o Homem. Cada espécie pode transmitir diversos agentes infeciosos que causam doença no Homem, nomeadamente a borreliose de Lyme e a febre escaro-nodular (febre da carraça), que em Portugal é a doença de notificação obrigatória desde 1950.
Existem cerca de 889 espécies de carraças em todo o mundo, cerca de urna dezena dessas espécies estão presentes em Portugal. Trata-se de um ectoparasita que necessita de 1, 2 ou 3 hospedeiros (animais a partir dos quais se alimenta para se reproduzir e sobreviver), consoante a espécie de carraça em causa. Este agente infecioso terá tendência a proliferar no nosso país, quer pelo crescente aumento do efetivo animal (nomeadamente de cães e gatos abandonados), quer pelo nosso clima cada vez mais quente. A carraça, quando portadora de micróbios, representa um perigo para a saúde pública.
Como vive a carraça?
Pelas características morfológicas básicas destes seres podemos dividi-los em:
· Carraças "duras", em que a cutícula (ou "carapaça") que as reveste é dura;
· Carraças "moles", em que a cutícula é mole, estando normalmente mais confinadas às orelhas dos animais, às ranhuras do solo e paredes e outros habitats com condições ambientais estáveis.
As carraças podem parasitar uma gama muito extensa de animais: ruminantes domésticos e selvagens, equinos, suínos, cães, gatos, roedores, lagomorfos, aves, entre outros, a partir dos quais se vão alimentar do seu sangue.
Existem carraças que só parasitam um hospedeiro durante o seu cicio de vida, enquanto que, existem outras que podem parasitar 2 ou 3 hospedeiros diferentes, depende da espécie de carraça em causa. O ciclo de vida da carraça divide-se em 4 fases de desenvolvimento: o ovo, a larva, a ninfa e o adulto. Em todas estas fases podem parasitar um hospedeiro. Uma carraça adulta pode originar entre 2000 a 20000 ovos, os quais se irão destacar do hospedeiro e serão depositados no solo, preferencialmente em zonas de vegetação de baixa ou média altura, com algum grau de humidade. Assim, os "verdes campos" constituem uma ótima armadilha para os hospedeiros, como os ruminantes em pastoreio ou os cães e gatos em plena.
Consoante a espécie da carraça em causa, teremos um hospedeiro preferencial, assim como a sua distribuição corporal será diferente. Por exemplo, existe uma espécie de carraça (Ixodes scapularis) que pode parasitar répteis e roedores; existe uma outra (Amblyoma americanum) que é a espécie mais agressiva para os humanos e seus animais domésticos. A mais comum é a Rhipicephalus sanguineus (uma carraça de corpo castanho), que tem a tendência de parasitar as orelhas, pescoço e dedos dos cães.
E que tipos de doenças podem as carraças transmitir aos humanos?
A célebre "febre da carraça" ou "febre dos fenos" não são mais do que infeções transmitidas pela carraça aquando de uma picada da mesma num humano. O período de incubação depende do agente micróbiano transmitido pela carraça, e varia desde os 3 aos 30 dias sem sintomas. Por exemplo, na febre escaro-nodular de Ricardo Jorge (ou botonosa mediten-Anica), normalmente começa por uma lesão primária (pequena úlcera vermelha coberta por uma "pontuação" negra) ao nível da picada da carraça na pele, passados 3 a 7 dias aparece a febre, dores de cabeça, musculares e articulares; gânglios linfáticos aumentados; ao nível da pele existe uma erupção generalizada, primeiro macular e depois maculopapular, a mortalidade é baixa. Os sinais que poderão aparecer em humanos infetados pelo agente microbiano acima mencionados são: febre, dor de cabeça, "rash" cutâneo, mialgias, presença de picada de um inseto, náusea e vómitos, dor abdominal, conjuntivite, gânglios linfáticos aumentados, diarreia, perda de equilíbrio, estado mental alterado, artrites, icterícia, entre outros. Portanto, evite expor-se à picada através de:
- Use roupa clara;
- Cubra a maior parte do seu corpo;
- Não utilize roupa que deixe as carraças agarrar, como por exemplo cachecol, lenços, entre outros;
- Inspecione todo o corpo no final do dia, principalmente as zonas entre os dedos e atrás das orelhas, entre outras que estejam mais escondidas.
Caso seja picado:
- Retire a carraça assim que a detete com uma pinça rodando ligeiramente a mesma e desinfete a zona onde ela estava presa com uma solução desinfetante.
Em caso de dúvidas ou de picada consulte o seu médico de família.
A prevenção é, pois, a arma mais forte que o dono do animal de estimação tem ao seu dispor no controle de carraças e doenças por elas veiculadas.
Na quinta-feira à tarde realizámos uma atividade que nunca tínhamos realizado, a colheita de carraças. Esta colheita foi feita apenas através da técnica Flagging e o local foi junto da estação ornitológica nacional da reserva natural da lagoa de Santo André. A técnica referida consiste na passagem de um pano turco, de cor branca sob a vegetação. Depois de arrastarmos esse pano durante uns 5 a 6 passos viramos o mesmo com cuidado. As carraças que fomos capturando eram recolhidas com uma pinça e colocadas num recipiente rolhado com alguma erva no interior, a fim de, manter a humidade. Uma vez realizada a colheita, preenchemos o boletim respetivo e conservamos as carraças num local refrigerado.
Na colheita realizada registámos a temperatura e a humidade através do termo-higrómetro.
No dia seguinte, logo pela manhã deslocámo-nos ao CEVDI (Centro de estudos de vetores e doenças infeciosas) em Águas de Moura, a fim de entregarmos as carraças e larvas de mosquito capturados e de realizarmos uma visita ao laboratório do local.
O CEVDI assegura o diagnóstico de referência, a vigilância epidemiológica e a investigação científica e dá apoio ao desenvolvimento de estudos na área dos agentes infeciosos transmitidos por vetores ao Homem e outros animais. Algumas das doenças estudadas nesse centro são a borreliose de Lyme, tularémia, febre Q, febre escaro-nodular e outras rickettsioses, Febre por West Nile, Chikungunya e dengue, arenaviroses e hantaviroses e outras febres hemorrágicas virais. No presente, o CEVDI é responsável pela implementação e execução do programa REVIVE, um projeto nacional de vigilância dos artrópodes vetores. Na visita a este local foram-nos apresentadas as instalações e tivemos a oportunidade de ver, a microscópio, as carraças e larvas que mosquito que tínhamos capturado. Pudemos ainda ver o museu onde existem algumas técnicas que eram usadas antigamente e também algumas espécies que foram registadas.
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